Poemas

 Rebento

Árvore murcha, galhos inertes

desgastada pela ação do tempo

que urge para uns, e para outros

passa tão devagar...

Impetuosamente, o açoite do vento

a arrastar folhas secas,

sacudir os galhos, a raiz

semeada entre tantos pedregulhos!

Entretanto, as pedras! Oh, as pedras!

Ajudam a fincar-lhe no solo,

impedindo uma tragédia maior.

E um pequenino broto ressurge...

Entre rochas, pedregulhos!

Ávido de chuva, condições climáticas favoráveis

para rebentar com mais vigor.


Raimunda Leonília

Monte

Subo todos os dias um pouquinho

Afinal, mais que isso não consigo

Vejo, logo continuo, devagarzinho

Escalando esse monte…

Esse monte muito antigo


Parece um looping interminável

mas na verdade, sou eu apenas

Que me aventurei no caminho inimaginável…


Me recordo dos dias de calma,

Onde estava eu sem intromissão

Em paz, na minha própria solidão

Vangloriando a minha razão…


Caí numa armadilha montada

Por este que vos fala.

Entretanto, não entendo como foi armada,

Mesmo assim a culpa não me anula.

Não me arrependo dessa emboscada


E assim sigo

Com duas personalidades distintas

Com uma vida quase infinita

Em busca de uma chegada

Uma chegada após a escalada.


Felipe Valentim

Meus Rios Morrem...

Na minha terra não passa um rio,

Pois o rio de lá era o Riachão,

No inverno - rio, e seco no verão,

Quando as águas fugiam. Nenhum brio.


Vinha de longe… Ah, muitas vezes vi-o

Sumindo aos poucos. Mas deixava as poças,

E ali, no leito, homens faziam roças,

Os mesmos homens que o queriam rio…


Ao Guaribas descendo… Um desafio!

O que banhava Picos, com mais fé,

Rumo a outro, o Itaim, já pelo estio.


Hoje, tudo está morto em cada riba,

Sempre assim do meio do rio ao Canindé,

Trazendo a dor da sede ao Parnaíba.

Francisco Miguel de Moura

Curvas do Meu Caminho 

Escrevi este soneto alguns dias antes  de completar 20 anos; 2 anos e meio depois, ele serviu de título para meu primeiro livro (CURVAS DO MEU CAMINHO, 

Dezessete anos após isso, o soneto  foi musicado e gravado por Odorico Carvalho, cantor piauiense,  meu amigo de juventude e colega de trabalho no rádio e no Banco do Brasil.

O livro, Curvas do Meu Caminho, subsiste apenas nos registros jornalísticos e acadêmicos e em algumas raras bibliotecas, mas a música ainda está vivinha na memória e no coração de muitos. Inclusive já foi regravada por outros artistas nordestinos e ecoa aí pela internet. Pode ser ouvida, via Google,em diversos portais, inclusive pelo youtube. 

 


CURVAS DO MEU CAMINHO

 


Dias incertos, tempos desiguais,

Cada gozo a um tormento precedia,

Um sorriso; depois, uma agonia

E a cada passo tentado, um tombo a mais.

 


A cada dia de sol, a tempestade,

Acada meta traçada, uma incerteza;

Acada doce esperança, uma tristeza

E a cada mágoa sofrida, uma verdade.

 


E hoje, com sonhos despertados,

Martírios da alma quase superados,

O viço e o vício querem renascer.

 


E se então outra chama em mim se acende,

Meu ego acorda e uma voz desprende:

Por Deus, eu quero e preciso viver!

 

Gilson Chagas